domingo, 2 de janeiro de 2011

Esse estranho corpo

Qualquer discurso sobre o corpo parece ter de enfrentar uma resistência. Ela provém certamente da própria natureza da linguagem: como para a morte ou para o tempo, a linguagem esquiva-se à intenção de definir: cada definição permanece um ponto de vista parcial, determinado por um domínio epistemológico ou cultural particular.(...)
Parece no entanto que a verdadeira dificuldade se encontra noutro lado. Manifesta-se na profusão, não das significações do corpo, mas do emprego metafórico deste termo. Ele está em todo o lado, tudo forma um corpo (...). A esta docilidade da linguagem equivale uma violência real exercida sobre o corpo: quanto mais sobre ele se fala, menos ele existe por si próprio.
José Gil, Metamorfoses do Corpo, A Regra do Jogo, 1980, p. 7

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