sábado, 1 de janeiro de 2011

A Teoria das Inteligências Múltiplas na Aprendizagem

“Um mesmo campo não é igual para um pintor e para um pastor. Cada um percebe dele
uma face distinta e lê um alfabeto diferente” (MARINA, 1995, p. 31).

Embora a teoria científica e as intervenções educacionais não estejam diretamente unidas, ao propalar as diferentes formas de aquisição do saber representadas por intelectos diferentes e individuais, a Teoria das Inteligências Múltiplas indica a importância de se ensinar de diferentes formas, apontando determinadas posturas educacionais (GARDNER, 1994, 2000;ARMSTRONG, 2001; MAGNO, 2003; BRANDL, 2005; SMOLE, 2006; ZYLBERBERG,2007).
Para os autores, apesar de o sistema educacional preconizar uma concepção unidimensional de inteligência, abordando uma uniformidade, ao considerar a diversidade que apresenta o contexto escolar, assim como as muitas variáveis que interferem no processo de aprendizagem, os métodos de ensino podem levar a concepção de uma educação vinculada à Teoria das Inteligências Múltiplas.
Nessa visão, as pesquisas cognitivas documentam que os estudantes possuem diferentes tipos de mentes e, portanto, aprendem de modos diferentes. Portanto, algumas pessoas têm uma abordagem primeiramente lingüística da aprendizagem, enquanto outras uma tomada espacial. Da mesma maneira, alguns estudantes desempenham melhor quando solicitados a manejarem símbolos de diversos tipos, enquanto outros estão mais aptos a compreenderem por meio de uma demonstração corporal, ou até mesmo de interações com outros indivíduos, ou com elementos da natureza (GARDNER, 1999).
Smole (2006, p. 3) acrescenta que: Uma vez assumido que as crianças e jovens de diferentes idades ou fases da escolaridade têm necessidades diferentes, percebem as informações culturais de modo diverso e
assimilam noções e conceitos a partir de diferentes estruturas motivacionais e cognitivas, a função da escola passa a ser a de propiciar o desenvolvimento harmônico destas inteligências e usar os diferentes potenciais de inteligência dos alunos para fazer com
que eles aprendam.
Ao preconizar que a inteligência está relacionada com a resolução de problemas e a criatividade, pode ser viável uma educação individualizada em que os educadores reconheçam as diferentes formas de aquisição e expressão do conhecimento.
Conhecer cada um, segundo Gardner (2000, p. 185):
[...] significa aprender sobre a origem, os pontos fortes, os interesses, as preferências, as
aflições, as experiências e os objetivos de cada um, não para estereotipar ou pré-ordenar,
mas antes para garantir que as decisões educacionais sejam tomadas num perfil
atualizado do aluno.
O autor propõe que independente da idade, deveria ser possível obter um quadro razoavelmente preciso do perfil do intelecto. Esse quadro poderia ser obtido, por meio da observação no envolvimento desse indivíduo nas atividades regulares da escola.
Segundo Brandl (2005, p. 32) ao conduzir a Teoria das Inteligências Múltiplas para as ações pedagógicas pode ser viável considerar que as matérias podem ser ensinadas e avaliadas de várias maneiras utilizando diversas abordagens pedagógicas. Porém, a autora adverte que ao transferir essas idéias para a realidade educacional, seus segmentos pedagógicos podem direcionar para ações que ultrapassem a simples decisão de implantá-las. “A necessidade de mudanças na concepção de inteligência humana, bem como nas formas de intervenção sobre esta capacidade, aponta para a escola evidentes alterações nas suas práticas educativas”.
Corroborando, Zylberberg (2007, p. 37) declara que o fato de abordar as Inteligências Múltiplas no âmbito educacional, não significa simplesmente traduzir tipos diferentes de inteligências. A autora argumenta que: “Nossa busca deve se dar em função de seu conteúdo revolucionário, para que possamos compreender as inteligências de uma maneira diferente daquela proposta pelos modelos clássicos. E assim podemos também repensar a aprendizagem humana por inúmeros caminhos”.
Devido às sugestões que englobam a Teoria das Inteligências Múltiplas, a aprendizagem ao conceber essas dimensões, pode abarcar e reconhecer os vários talentos dos estudantes.
A teoria das IM (Inteligências Múltiplas) tornou-se popular em muitos países porque
proporciona apoio para um fato que a maioria dos professores (e a maioria dos pais)
sabe: as crianças têm mentes muito diferentes umas das outras, elas possuem forças e
fraquezas diferentes, e é um erro pensar que existe uma única inteligência, em termos da
quais todas as crianças podem ser comparadas. Muitos programas educacionais têm sido
baseados na teoria, e esses programas contêm inovações promissoras no currículo, na
pedagogia, na avaliação e no uso de recursos fora do prédio da escola (GARDNER,
2006, p. 26).
Para Vecchi (2006) quando o educador possui conhecimentos das Múltiplas Inteligências dos seus alunos pode possibilitar ações de aprendizagem nas quais a aquisição e expressões do conhecimento tornam-se significativas para o aluno.
Portanto, no contexto escolar, o processo de ensino e aprendizagem pode favorecer estímulos para desenvolver as mais variadas inteligências do aprendiz, proporcionando assim o seu desenvolvimento por inteiro. “Uma aprendizagem significativa está relacionada à possibilidade dos alunos aprenderem por múltiplos caminhos e formas de inteligência, permitindo aos estudantes usar diversos meios e modos de expressão” (SMOLE, 2006, p. 3).
Em seus estudos Brandl (2005), esclarece que ao conceber as práticas pedagógicas sob a visão das Inteligências Múltiplas os conteúdos podem ser ensinados nas mais diversas abordagens pedagógicas. Porém, ao planejar uma educação realmente eficaz, os métodos devem ser suscetíveis às estimulações do potencial, e conseqüentemente, à compreensão dos estudantes.
Para a pedagogia, essa Teoria é muito atrativa, especialmente porque Gardner comanda um projeto de escola experimental na Universidade de Harvard (Projeto Zero), por meio do qual tenta verificar na prática as conseqüências de suas idéias para a educação. Em sua escola, a música, a dança, a dramatização, o desenho não são considerados apenas novas "matérias" que vêm enriquecer e equilibrar o currículo, mas também estratégias didáticas para o ensino de conteúdos mais tradicionais, procurando respeitar os possíveis diferentes modos de aprender.
Trabalhos realizados em equipe, a elaboração de projetos, a criação, apreciação e crítica de obras de arte e a auto-avaliação são algumas das características desse projeto pedagógico.
Quando as ações pedagógicas permitem a influência da Teoria das Inteligências Múltiplas, certamente poderá introduzir inovações interessantes em suas práticas, oferecendo mais oportunidades para que cada aluno encontre seu próprio percurso de aprendizagem.
Além disso, para Nista-Piccolo e colaboradores (2004) ao abranger o ser humano com múltiplos potenciais ocorre o favorecimento de uma concepção de ensino centrado nos potenciais individuais do aprendiz, desencadeando o desenvolvimento de todos os tipos de inteligências, característicos de seus potenciais. Smole (2006, p. 26) por meio de seus estudos esclarece que:
[...] o desafio é a mudança da visão que se têm dos potenciais da criança, dos
conhecimentos que ela traz consigo, das suas possibilidades de aprendizagem. Vê-la de
maneira diferente implica em modificar as formas de se ensinar, em buscar caminhos
que levem ao encontro das suas janelas de aprendizagem.

Nessa perspectiva ocorre uma combinação própria de inteligências para cada ser humano, que pode fornecer indícios no seu percurso de aprendizagem, como também nas dificuldades encontradas nesse percurso. No processo de aprendizagem é preciso que o indivíduo seja estimulado para compreender suas próprias variedades intelectuais, fazendo de seus saberes rotas para aprender os conteúdos. Nesse sentido Zylberberg (2007, p. 252) declara que: “Cabe aos professores e alunos, conjuntamente, identificarem as rotas de acesso individuais e proporem diferentes formas de aprender e avaliar”.
Entretanto, Gardner (2000) adverte que a prática de enquadrar os alunos em certos moldes de inteligência, pode direcionar para ações pedagógicas restritas as potencialidades de aprendizagem somente por determinadas maneiras, sem considerar o indivíduo em sua totalidade.
Portanto, no contexto escolar, estimular as inteligências, não significa limitar as experiências em determinada área e explorá-la em outras, mas proporcionar ao educando uma grande variedade de experiências de aprendizagem que estimule a manifestação e desenvolvimento pleno de seus potenciais cognitivos. O maior desafio consiste em conhecer a essência de cada criança, reconhecendo suas capacidades, forças e interesses. “O professor é um antropólogo, que observa a criança cuidadosamente, e um orientador, que ajuda a criança a atingir os objetivos que a escola – ou o distrito, ou a nação – estabeleceu” (GARDNER, 2005, p.32).
Segundo Smole (2006), pode ser viável considerar os traços que ressaltam as características do aprendiz para a tomada de decisões sobre o currículo, os aspectos pedagógicos e os sistemas de avaliação. A autora esclarece que fazer uma reflexão sobre as concepções de conhecimento e inteligência como fator de interferência nas considerações sobre aprendizagem na escola favorece a percepção de que aprender não é nunca um processo meramente individual, nem mesmo limitado às relações professor aluno. Ao contrário, é um processo que se dá imerso em um grupo social com vida própria, com interesse e necessidades dentro de uma cultura peculiar.
Reforçando essas posições, Macedo (2006, p. 13) declara que: “desenvolver a inteligência significa saber, poder e querer exercitá-la infinitas vezes no contexto das
experiências de nosso cotidiano e dos contextos genéticos e socioculturais que a possibilitam”. O autor considera que se tornar, ou ser inteligente implica em fazer escolhas, conseqüentemente à atuação em função dessas escolhas supõe em coordenar pontos de vista.
Ao considerar a diferença, o aluno poderá ser capaz de desenvolver plenamente seu potencial intelectual e social, pois ao estimular várias áreas do intelecto, conseqüentemente o indivíduo terá maior potencial de desenvolvimento de suas habilidades (GARDNER, 2000).
Em suas propostas, Macedo (2005), Feldman (2001), Gardner (2000), Smole (2006) e Zylberberg (2007) defendem a escola como parte integrante de uma sociedade complexa, a qual deveria oferecer as crianças à aprendizagem a partir da singularidade e diversidade, praticando a reflexão e ao mesmo tempo refletindo sobre a prática. Para os autores, reconhecer essa diversidade no contexto escolar é uma necessidade e uma excelente perspectiva para focar reformas educacionais.
Os autores propõem uma reflexão sobre diferenças, permitindo talvez que essa compreensão possibilite uma crítica ao que está sendo proposto, e o que está sendo realizado para possibilitar um ensino realmente acessível a todos, pois: “[...] não somos todos iguais: não temos o mesmo tipo de mente, ou seja, não somos distintos em uma única curva do sino1 e a educação funciona de modo mais eficaz, se estas diferenças antes forem levadas em consideração do que ignoradas ou negadas” (GARDNER, 2000, p. 115).
Segundo Charlot (2006), o ideal seria uma escola que fizesse uma ponte entre a
história coletiva do ser humano e sua história individual.
No processo de ensino e aprendizagem, pode-se abarcar principalmente o desenvolvimento humano, as diferenças individuais e as influências culturais. Ao abordar a enorme diferença na maneira de aquisição e representação do conhecimento, o atual desafio da educação consiste em fazer com que estas diferenças sejam referências para o processo de ensino e aprendizagem. Nessa visão o ensino para ser completo deve buscar compreender a individualidade, garantindo a todos o direito de aprender.

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