domingo, 13 de fevereiro de 2011

LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA

O lazer expressa a cultura de uma  sociedade, podendo constituir-se num elemento de conformismo ou resistência a ordem socialmente estabelecida.
Para Marcellino, o  lazer enquanto tempo liberado das obrigações sociais, pode se constituir num espaço de emergência  de valores e concepções.
Constata-se duas grandes linhas de pensamento em relação ao fenômeno lazer ; uma o considerando como atitude de vida e outra considerando-o como “tempo livre” das obrigações profissionais. Encontramos também teorias que não concebem o lazer como necessidade humana, não sendo prioritário para camadas pobres da população sob argumento destas não terem supridas suas necessidades básicas.
Conforme Bruhns, tem-se observado em relação ao lazer uma visão funcionalista, posicionando o homem em função do sistema vigente, buscando uma manutenção da ordem social presente, sendo considerado como tempo de recuperação da força de trabalho. Neste sentido, tanto tempo de trabalho como tempo de não-trabalho estariam atendendo às necessidades do sistema. Para a autora, a aparente existência de uma dicotomia entre lazer e trabalho está relacionada a tempos marcados e controlados por vários instrumentos (relógio, calendários e outros) estabelecendo espaços específicos para cada atividade. Caminhando neste raciocínio, a autora aponta que a oposição radical entre trabalho e lazer poderá conduzir o segundo a uma compensação do primeiro, e o primeiro como algo detestável, pois desprovido de possibilidades criativas. É necessário, portanto, compreender a interação existente entre os dois.
Bruhns (1997) lança algumas indagações direcionadas à educação física, referindo-se às diferentes formas com que esta vem sendo desenvolvida dentro da educação formal e nas opções de lazer. Neste sentido, a autora aponta sobre o sistema de competição de alto nível não constituir um modelo ideal para a média do cidadão esportivo como participante, em potencial, do esporte de lazer ativo.
Ao considerar que grande parte da população em nosso país, quando faz opção por alguma atividade corporal, não busca alto rendimento, muito menos um profissionalismo,  mas uma forma de se exercitar no tempo de lazer,  algumas questões surgem como indagações para a educação física, área articuladora dos elementos
jogo, esporte, dança e ginástica. Se essas opções no lazer não se referem igualmente a uma educação formal, ou seja, não estão sendo desenvolvidas na  relação do sujeito com a instituição escolar, uma outra relação com o conhecimento deve ser estabelecida.
Devemos indagar se os objetivos almejados no tempo disponível das pessoas, geralmente  relacionados à dilatação das regras sociais (e por  isso constituindo-se na possibilidade de um espaço estrutural para o surgimento do novo),  podem ser alcançados através das modalidades tradicionais, com formas de movimento repletas de técnicas e programas orientados para a  quantidade e a busca da performance.
Nesse sentido, tornam-se pertinentes as  colocações de Lüdtke (1984) sobre não haver  dúvidas quanto ao sistema de competição de alto  nível, não constituir um modelo ideal para a  média do cidadão esportivo como participante, em potencial, do esporte de lazer ativo.
Notamos, portanto, que esses elementos  trabalhados pela educação física vão receber outro perfil, ou seja, o jogo, a dança, a ginástica e o esporte serão tratados como recreação, como atividades de lazer.
Os conteúdos desses elementos, embora  submetidos a regras, devem conter a possibilidade  de alteração das mesmas, pelos sujeitos  envolvidos, numa situação adaptativa. A multiplicidade compõe o contexto, onde  agrupamentos sem distinção de idade, sexo ou  nível técnico se formam através de interesses.
O modelo dos elementos que compõe a educação física enquanto recreação (ou atividades de lazer) deveria pressupor o predomínio do motivo lúdico. A multifuncionalidade está presente na estrutura social do comportamento de lazer,
possuindo qualidades difusas, acentuando o  caráter lúdico das atividades de movimento, permitindo alternâncias flexíveis das ofertas.
Lüdtke (1984) vem resumir o exposto, mostrando como o modelo dos elementos que  compõem a educação física, enquanto recreação, deveria atender as seguintes condições:
a) predomínio do motivo lúdico em oposição aos índices dos resultados, baseados em critérios de performance;
b) onde importariam critérios de performance, estes deveriam ser de livre escolha, discutíveis, de determinação espontânea e substituíveis, ao invés de objetiva e
permanentemente estabelecidos;
c) as formas sociais de participação deveriam ser flexíveis e informais;
Portanto, a recreação (ou atividades de lazer) trabalhada pela educação física aproxima se do lúdico, como o estamos tratando.
A abordagem desses elementos nos conduz para a discussão de aspectos do movimento humano. Na relação da educação física com o lazer, manifesta-se a necessidade da compreensão do movimento humano, ocorrendo paralelamente às
imagens do corpo veiculadas na cultura.  Os processos de transformação ocorridas no corpo humano, numa dinâmica social, conduzem a mudanças na nossa percepção com referência a valores do ser humano. 
Diversos autores da área da Educação Física tem contestado a visão cartesiana de corpo, a qual traduz-se em modelos tecnicista ou biológicos  no qual o corpo é considerado como objeto de reprodução de movimentos padronizados. Atualmente, os autores propõem o movimento como uma relação dialógica entre o homem e o mundo, no qual a corporeidade sobrepuja concepções  lineares e cartesianas.
Porém,  de acordo com Marcelino, na escola, desde muito tempo, o lazer, em termos de atividades recreativas, foi sendo forjado numa perspectiva moralizante, que baseava-se numa lógica controladora dos comportamentos e atitudes dos alunos, transitando na contramão da compreensão originária da recreação enquanto re-criação e, assim, deixando de valorizar a criatividade, própria do lúdico, para fazer o papel utilitarista.
Para o autor a escola e a educação física tem se valido de uma lógica de lazer utilitarista; e por isso produtora de um “jogo mantendor da ordem estabelecida”. Portanto, há necessidade de se estabelecer nesse contexto “um novo jogo” tendo como ponto de partida o entendimento de quem está melhor habilitado para o jogo – a criança.”
Ao vislumbrar o desenvolvimento integral do ser humano, ao invés de anular corpos que possuem expressões peculiares, a Educação Física reconhece a corporeidade em seu contexto. O corpo é construído culturalmente por meio do ser e estar do sujeito numa dinâmica  mutua de transformações momentâneas e gradativas Compreender que, por meio do movimento, o corpo manifesta-se revelando o modo intencional do sujeito estar no mundo e, ao mesmo tempo, construir e reconstruir saberes são diretrizes importantes para a Educação Física inserir o Lazer em suas práticas corporais.

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